quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

BRUMAS DE FERRO - Crônica

Todos estão mortos, só eu vivo. O velho ferroviário diz a frase com uma ponta de vaidade e o dedo espetado em uma foto do início dos anos 50. Veja, este sou eu, os outros todos morreram. Reforça ele, com o pequeno retrato emoldurado na mão. A imagem mostra uma locomotiva sobre um trecho de trilhos danificados. Há uma porção de homens labutando para resolver o problema e só um deles está vivo.

Seu Aroldo devolve a fotografia a um prego na parede da estação centenária e abre a memória em largos gestos de braços ossudos e compridos para contar que começou a trabalhar como mecânico na estrada de ferro aos 14 anos. Aos 84 anos, tem um andar de passos miúdos, mas locomove-se sem dificuldades, vai a um lado e outro tangido pelo desejo de contar, de mostrar, de pintar em tintas vivas um passado que excede as cercanias da memória e se derrama pela antiga plataforma de embarque e desembarque.

O tempo, como uma criança travessa, faz brincadeiras com esse homem octogenário. Enquanto ele lembra de épocas passadas e antigas ocorrências, o cenário de agora é praticamente o mesmo do passado. O sólido concreto dá forma e substância aos amplos vãos livres encimados por cumeeiras altas, principal cartão postal da cidade, onde arquitetura e memória formam um amálgama atemporal. Se uma lembrança escapa, e brinca, e gira e grita notícias fresquinhas de 70 anos passados, não há como acusar o tempo de falso testemunho. Tudo ali se presentifica, até as horas quentes e abafadas do verão imitam o transcurso de janeiros da antiga mocidade desse homem.

Não há melancolia nos seus olhos negros. Mas um contentamento que não põe reparo nas vicissitudes. Para si, o tempo deixou de ser o rio de Heráclito e tornou-se um remansoso lago onde os acontecimentos flutuam completamente livres. De modo algum ele se confunde como os desmemoriados. Consegue estabelecer uma linha do tempo, organizar as datas, ver as longitudes e ter perspectiva. Mas o que gosta mesmo é mergulhar na represa da memória e banhar-se nas águas do tempo como se a qualquer momento o trem fosse apitar na curva, chegar fazendo estardalhaço e parar na estação em meio à bruma da caldeira fervente, despejando elegantes passageiros de sobrecasaca.

JOEL GEHLEN
fonte: Jornal A notícia
10 de janeiro de 2013. nº 1732

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Encontros com a Memória especial de natal

Dia 12 de dezembro foi realizado na Estação da Memória 
o Encontros com a Memória especial de natal.

Na ocasião os ferroviários e seus familiares 
assistiram uma apresentação em slides de estações ferroviárias 
do ramal São Francisco.


 Dona Lila compareceu ao Encontro trazendo canções
 natalinas para a confraternização.




O monitor de museus, Antonio Luis Fiamoncini, apresenta a antiga 
Estação Ferroviária de São Bento do Sul aos participantes do encontro.

Uma mesa preparada com lembrancinhas de natal.

Cartões de natal confeccionados artesanalmente pela 
Equipe da Estação da Memória.

Os participantes entoam canções natalinas.






Um delicioso café para confraternizar o natal.


Docinhos secos confeitados é um importante patrimônio
 imaterial da gastronomia  regional. 


Participantes cantam e celebram o natal.


Compareceram ao encontro seu Silvio e seu José Azuir - filhos de ferroviários
 com Giane Maria de Souza - educadora de museus  e com 
seu Aroldo - mecânico aposentado da Estação Ferroviária de Joinville.



Mensagens de natal foram escritas e 
trocadas pelos participantes.



Os participantes trocaram pequenas lembranças 
para partilhar o sentimento do natal. 






Todas as fotografias são de autoria de  Jeferson Luiz Freitas e Aline Kormann.